sábado, 10 de setembro de 2011

EGITO - PROTESTO DE MASSAS CONTRA JUNTA MILITAR PRÓ-EUA

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World Socialist Web Site - [Johannes Stern, Tradução de Diário Liberdade] 10 de setembro de 2011. Trabalhadores egípcios e jovens realizaram um protesto de massa nas cidades do Egito ontem, após uma nova onda de greves tomar conta do país nos últimos dias. No Cairo dezenas de milhares de manifestantes se reuniram na Praça Tahrir, um dos epicentros da revolução egípcia, 3 pessoas foram mortas pelas forças de repressão e centenas estão feridas.


O exército e polícia egípcia se retirou da Praça Tahrir antes dos protestos começarem mas ameaçaram retornar à meia-noite para dispersar as multidões remanescentes. Os militares ocuparam a ilha central da praça desde o dia 1º de agosto, quando a junta militar violentamente reprimiu o último protesto pacífico.

Diferentes marchas foram organizaram rumo à Praça Tahrir durante o dia. Uma manifestação começou no campus da Universidade do Cairo em Giza e foi rumo à embaixada de Israel, onde os manifestantes cantaram slogans contra Israel e o Supremo Conselho das Forças Armadas (SCAR, na sigla inglesa). Após a recente agressão do exército de Israel no último mês, houveram protestos prolongados em frente à embaixada.

A junta SCAF, que continua como aliada de Israel, construiu um muro de concreto ao redor da embaixada para distanciá-la dos manifestantes.

Durante o dia milhares de manifestantes retornaram à embaixada, derrubando parte do muro, invadiram-na e removeram a bandeira de Israel do topo do prédio. Os manifestantes foram atacados por forças de segurança com gases lacrimogêneos e balas de borracha. 837 pessoas ficaram feridas e 3 pessoas morreram.

Outra manifestação começou em Shubra, um bairro operário na região norte do Cairo. Quando a marcha passou nos escritórios do diário estatal Al-Gomhoreya, manifestantes levantaram seus sapatos para indicar desprezo e cantaram "mentirosos". Eles carregavam cartazes escritos "Um salário mínimo para aqueles que vivem nos cemitérios" e "Um salário máximo para aqueles que vivem em palácios".

Os protestos de massas na Praça Tahrir também contou com a participação de fazendeiros, que organizaram uma marcha do lado de fora do ministério da agricultura em Dokki, e pelos "Ultras" (fans) das duas maiores equipes de futebol do Cairo, al-Ahly e Zamalek. Fãs do al-Ahly foram brutalmente atacados pelas forças policiais após uma partida na quinta-feira por terem cantado palavras de ordem contra o ex-ditador Hosni Mubarak. Mais de 5 mil Ultras se encontraram na praça e cantaram contra a brutalidade policial e o ministro do Interior. Manifestantes também denunciaram os julgamentos militares dos civis e chamaram para "purgar o judiciário de todos os apoiadores de Mubarak".

Outras palavras de ordem foram dirigidas contra o governante de fato do Egito, o Marechal Mohamed Hussein Tantawi, ministro da Defesa de Mubarak por 20 anos: "Uma palavra em seu ouvido, marechal, a revolução continua em Tahrir" e "Tantawi é Mubarak".

Na cidade costeira de Alexandria milhares de manifestantes se reuniram em frente ao El-Qaed Ibrahim Mosque. Eles cantaram palavras de ordem contra o conselho militar e demandaram "colocar todos os funcionários assassinos em julgamento". Eles também cantaram, "Todo mundo é o mesmo após a revolução".

Em Suez, os manifestantes tentaram se dirigir rumo aos escritórios governantes mas foram atacados pela polícia militar, que usaram bastões para dispersar a multidão.

A reação violenta dos militares e policiais no Cairo e Suez é um sinal de profunda preocupação entre a elite governante egípcia frente aos renovados protestos e greves. Greves de massas se espalharam pelo Egito desde o fim do Ramadã, com trabalhadores demandando salários melhores e bônus e purgando das fábricas e instituições os oficiais corruptos da era Mubarak.

Milhares de trabalhadores dos correios estão em greve e demandam um aumento de 7% para compensar a inflação e um bônus de 200% por atingirem os objetivos anuais de produção. A greve é também dirigida contra os administradores corruptos e consultores super pagos dentro da empresa pública Postal Services.
No dia 6 de setembro o diário estatal Al-Ahram comentou que esta greve "reflete uma ampla desilusão de muitos empregados do setor público com a falta de progresso sob o governo Sharaf." O artigo reportou que "SCAF tentou impedir a greve e abrir os escritórios de correios na Ismailia pela força, mas o exército falhou porque os grevistas conseguiram manter suas posições."

Desde o início da semana a mídia egípcia reportou uma manifestação de massas e greves. Na segunda-feira trabalhadores da High Dam Electrical e Industrial Company se encontraram em frente ao prédio do Conselho de Ministros para realizar um protesto por melhores salários. Ao mesmo tempo estudantes da escola de Direito manifestaram em frente à Suprema Corte contra o nepotismo dentro do sistema judiciário. Na costeira governadoria de Beheira, residentes de Edku bloquearam uma avenida para protestar contra a colaboração do governo do Egito contra a transnacional petrolífera britânica, British Petroleum.

Outras novas fontes reportaram ações industriais posteriores e manifestações de trabalhadores automotivos, químicos, pescadores e têxteis.

No dia 3 de setembro 22 mil trabalhadores têxteis na cidade de Mahalla, casa do maior setor fabril público têxtil no Egito, anunciaram seus planos de começar uma greve por tempo indeterminado no dia 10 de setembro. Eles emitiram um comunicado declarando suas reivindicações, demandando uma salário mínimo maior e cheques especiais por mérito. O comunicado também declarou que eles querem não somente melhorar sua situação, mas também lutar por um padrão de vida decente para todos os trabalhadores do Egito.

Os trabalhadores de Mahalla tem uma longa história de lutas militantes e greves. Seus protestos em 2006 e 2008 ajudaram a galvanizar a onda de greves de massas que finalmente culminaram na revolução do dia 25 de Janeiro e os protestos que derrubaram Mubarak.

Profundamente preocupados com o crescimento da luta de classes, a junta SCAF se encontrou com uma delegação das fábricas de Mahalla para tentar por fim às greves. A delegação concordou em cancelar a greve após negociações com o ministro do Trabalho, Ahmed Borai. A delegação reportadamente concordou que os bônus de refeição serão aumentados para 210 EGP de 120 EGP e que os bônus mensais serão aumentados em 200%. A delegação também concordou em prolongar as discussões sobre compartilhamento dos lucros até os encontros da assembleia geral da Holding Company for Cotton e da Spinning and Textiles.

Enquanto isso, a junta militar está claramente tentando preparar uma confrontação com a classe trabalhadora. Na quarta-feira pela noite a SCAF se reuniu por três horas com o primeiro-ministro Essam Sharaf e seu gabinete para discutir o que um porta-voz do gabinete descreveu como uma "situação de segurança em deterioração". O conselho emitiu seis diretrizes para o governo Sharaf seguir imeditamente.
Entre elas há demandas para suspender "emissões de novas licenças para estações televisivas por satélites" e o começo de "procedimentos legais para rever licenças emitidas para qualquer rede televisiva por satélite que incitou violência e protestos." Duas outras diretivas disseram que "o gabinete irá intervir para paralisar todas ações grevistas, e irão endurecer a lei passada na primavera que criminaliza certas greves que causam distúrbios na vida pública". Adicionou que Sharaf não irá "negociar com grevistas sobre nenhuma demanda até que eles paralisem as ações em seus locais de trabalho".

Parece inevitável que as concessões limitadas possam impedir os trabalhadores em Mahalla e através do Egito de continuar as lutas contra o regime. Prontamente, trabalhadores têxteis em Kafr Al-Dawar e outros locais ameaçaram ir à greve caso eles não ganhem os mesmos incentivos que os trabalhadores em Mahalla.
Há também reportagens na mídia que outras seções da classe trabalhadora anunciaram uma escalada de protestos no meio de setembro. Al-Ahram reportou que professores do ensino médio e universitários estão preparando ações por todo o país no meio do mês, bem como médicos que estão planejando uma greve contra suas demandas não atendidas.

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