quarta-feira, 6 de abril de 2011

IGUAIS MAIS DIFERENTES


Blog do Servidor
Na internet, servidores trocam farpas: "Você não passa de um batedor de carimbo, de um carregador papéis", diz alguém que se identifica como sendo do Ministério da Agricultura. "Se o Executivo é o primo pobre, que façam um concurso melhor e não invejem o que é dos outros", responde outro que afirma ser do Superior Tribunal de Justiça (STJ). "Esse pessoal da Esplanada e do Judiciário acha que a gente é marajá, mas não sabe o que é trabalho", completa um que se autoapresenta como do Senado.
As frases reproduzidas aqui são fragmentos de comentários que não foram ao ar no Blog do Servidor — hospedado aqui no site do Correio. Apesar de resumidos, dão a dimensão exata da luta de classes nada silenciosa que, desde tempos imemoriais, move o funcionalismo. Prática comum, a de atacar seus pares sem, no entanto, mexer uma palha para melhorar a própria realidade, essa é uma das barreiras invisíveis que travam o amadurecimento do Estado. Infelizmente.
Brasília respira estereótipos. Todo mundo acha que conhece as pessoas a partir de julgamentos, de generalizações e de ideias pela metade. Não por acaso, a relação entre os trabalhadores do setor público é tensa. Em se tratando de salário, quase agressiva. Neste momento, em meio a cortes orçamentários e surtos de austeridade, o salve-se quem puder está mais uma vez em voga. O Judiciário quer aumento, o Legislativo mais cargos e prédios, o Executivo, contracheques robustos e concursos de volta.
Do alto de seus gabinetes, os chefes dos Três Poderes observam a distância. Como sabemos, ceder aos lobbies das categorias não ajuda em nada, mas ver o circo pegar fogo também não. Por definição, os servidores prestam contas a um único patrão, o Estado. São pagos pela mesma fonte, o Tesouro Nacional. Desempenham atividades voltadas ao ente maior da República, a sociedade. Um amigo que já passou por dois governos e sobreviveu a três ministros prega que isonomia é a única solução.
Apesar de bem intencionada, a proposta esbarra na realidade. Um servidor do Judiciário e do Legislativo custa duas vezes mais do que um do Executivo. Mais do que isso. Há carreiras semelhantes, com funções e atribuições muito parecidas, mas que desafiam a lógica cumprindo jornadas e sendo remuneradas de modos totalmente distintos. Nada disso combina com o princípio no qual todos são iguais.
Equilibrar a balança custaria muito caro ao país, tanto do ponto de vista financeiro como do político. As diferenças que separam aqueles que — no fundo, no fundo — deveriam ser vistos como idênticos brotam de políticas públicas equivocadas, de visões distorcidas do que venha a ser o papel do servidor. Independentemente do Poder os erros do passado deixaram marcas profundas na administração. Ainda que muitos desejem, tantos passivos não serão corrigidos do dia para a noite. Moral da história: os iguais continuarão por muito tempo sendo tratados e vistos como diferentes.
Publicado em 05/04/2011

Um comentário:

  1. Seria muito interessante que os trabalhadores do serviço público discutissem seriamente essas diferenças que só valorizam a minoria, enquanto, a grande maioria sofre com rótulos e salários mais baixos.

    Destino a isso tudo, a malícia dos governantes e principalmente à falta de vergonha desses sindicalistas que não querem a unficação dos vencimentos para não perderem a boquinha e continuarem a enganar os otários dos servidores com propostas que nunca irão cumprir continuando na mamata sindical e na mídia.

    Agora o pior disto tudo é a nossa apatia diante dessas coisas.

    Causa aflição pra mim, ver que o povo de uma maneira geral é muito passivo e permite que coisas assim continuem até cansarem e mudarem de brincadeira para outra ainda melhor pra eles.

    Nós funcionários públicos não passamos de otários nas mãos dessa gente esperta e gananciosa. Quando vamos reagir

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